O papel do exercício físico no tratamento da Endometriose

Antes de tudo, o que é endometriose? 

É a presença de endométrio, que é o tecido interno do útero, fora desse órgão. Em vez de limitar-se a revestir a cavidade uterina e prepará-la para receber um embrião, algumas células escapam e vão passear em outros órgãos. Lá, formam focos intrusos que agem como se ainda estivessem no útero, ou seja, sangram na época da menstruação, provocam cólicas, inflamação, desconforto durante o sexo, alterações urinárias ou intestinais e até mesmo infertilidade, dependendo da região afetada. “Geralmente, os alvos são os ovários, o intestino, a bexiga, as trompas e o peritônio, membrana que forra a parede abdominal”, explica o ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

A ginecologista Rosa Neme, do Centro de Endometriose São Paulo e do Hospital Samaritano, na capital paulista, reforça: “A atividade física ajuda tanto a prevenir como a tratar o mal”. A afirmação tem respaldo de dezenas de estudos que revelam o efeito preventivo da malhação. Um deles foi realizado por pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com 4 062 mulheres. As voluntárias que relataram ser ativas desde jovens apresentaram uma tendência menor de desenvolver a doença.

Para entender como o exercício combate a endometriose, é preciso conhecer primeiro as hipóteses sobre as suas causas. “Uma delas leva a entender que esse é o mal da mulher moderna”, decreta o ginecologista Maurício Abrão, da Sociedade Brasileira de Endometriose. “Hoje em dia, a mulher demora para ter filhos, portanto menstrua mais vezes.” Daí, aumenta o risco de ocorrer a menstruação retrógrada, em que o sangue reflui pelas trompas e é despejado, cheinho de células de endométrio, direto no abdômen. Porém, embora essas intrusas retornem pelas trompas, indo parar indevidamente em qualquer órgão da cavidade abdominal, isso não leva obrigatoriamente à endometriose, a menos que, entre em cena outro grande vilão da atualidade: o estresse.

Muitos estudos mostram que a tensão em excesso prejudica o funcionamento do sistema imunológico. “Os soldados do organismo não dão conta de cumprir sua missão de eliminar as células uterinas invasoras”, explica o ginecologista Sérgio Ribeiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. “Excesso de trabalho, ansiedade, alterações no sono, tendência genética e poluição também estão relacionados à doença”, completa Pupo. Nesse contexto desfavorável, o saldo é de cerca de 6 milhões de brasileiras sofrendo de endometriose, segundo Maurício Abrão.

É aí que a malhação faz sua entrada triunfal. “A prática de atividade física aeróbica regular libera endorfinas, que têm efeito vasodilatador e analgésico”, explica a ginecologista Vivian do Amaral, do Ambulatório de Endometriose e Infertilidade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, no Paraná. “Esses neurotransmissores espantam o estresse e, o que é ainda melhor, reduzem os níveis de estrogênio, hormônio feminino envolvido na história”, completa. Se você tem mais de 20 anos e é uma sedentária, deixe de lado a preguiça e comece a se mexer. “Em alguns casos, a doença começa cedo, mas demora uns doze anos para ser diagnosticada”, conta Abrão. Portanto, quanto mais jovem a mulher inicia uma rotina de atividade física, melhor.

Exercício sob medida

“Escolha uma modalidade que lhe dê prazer.” Esse é o conselho número 1 do fisiologista Paulo Zogaib, da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. O único pré-requisito, no caso do combate à endrometriose, é que ela seja aeróbica. Ou seja, vale caminhar, correr, nadar, pedalar… A intensidade deve ser moderada, com duração mínima de 30 minutos a uma hora para ter efeito, e freqüência de quatro ou cinco vezes por semana. Em caso de dor, não desista. “Tente um esporte na água, onde o impacto é menor”, recomenda o especialista.

Outras boas opções

Uma ótima notícia para você que adora modalidades mais light, e que trabalham, sobretudo a respiração: à sua maneira, elas também previnem e tratam a endometriose. “O pilates e a ioga melhoram a flexibilidade da pelve”, afirma a ginecologista Vivian do Amaral. “Daí há um maior aporte de sangue na região e, conseqüentemente, o alívio da dor”, garante. Os benefícios não param por aí. “Ao aprender a controlar a respiração, você aniquila o estresse, que é um dos principais culpados pela doença”, diz a médica. Sem contar que isso, indiretamente, ajuda a equilibrar os hormônios.

 

Como o exercício aeróbico age no corpo da mulher com endometriose

  1. A atividade aeróbica estimula a hipófise, glândula situada no cérebro, que passa a secretar uma substância chamada endorfina. Ela, por sua vez, inibe a secreção do hormônio FSH.
  2. O FSH estimularia a produção de estrogênio nos ovários. Então, menos FSH significa doses menores em circulação do hormônio que serve de combustível para o endométrio se desenvolver. O crescimento do tecido instruso é desacelerado. Muitas vezes, observa-se até mesmo sua regressão
  3. No sangue, a endorfina neutraliza a adrenalina e o cortisol, substâncias liberadas pelo estresse. E, assim, sem a influência negativa dessa dupla, as células de defesa passam a atuar com maior eficiência no combate ao endométrio invasor.

 

Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/

Autor: Adriana Toledo